sábado, 26 de abril de 2008

Entorpecida Pela Ilusão

E eu sinto seu cheiro. Me envolvo novamente naquela gigante e complexa rede de alucinações que me domina todas as vezes que você passa. Sinto. Paro e sinto. E tudo some, tudo desaparece como se nada, nunca, tivesse existido, como se o tempo, o espaço e as pessoas ao redor fossem ilusórios. E o que fica é só presença, presença de cheiro, presença de ar, só sua existência se mesclando com a minha.
Cheiro indecifrável que encanta, que consome e que traz lembranças sempre boas. Os momentos, aqueles momentos em que só nós podemos pensar, momentos que só nos pertecem e que em nenhuma outra memória podem existir. Ah, os momentos.
Nesse estado me encontro, estado que nada consegue atrapalhar, sensação que sempre se repete, mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de tantos obstáculos, ela continua, e com a mesma intensidade do começo. O tempo, simplesmente, não foi capaz de acabar com tamanha intensidade que apenas consegue dormir um sono leve, mas que é despertada com qualquer ruído, ou melhor, com o aroma que não é qualquer, mas que é o seu aroma, o que está guardado na memória e que me consome cada vez que você passa.
Mas de repente ele se vai, vai embora com toda a ilusão, some com toda a sua intensidade e da mesma forma brusca com que chegou, se despede. Eu acordo, sinto o cheiro do real, do presente e "esqueço" de tudo até que você passe de novo e largue seu cheiro carregado de momentos e memórias que tomam conta de mim por alguns minutos sublimes ...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Começo Do Fim Das Nossas Vidas


Expectativa.
Vem corroendo, passando por cima, tomando conta dos pensamentos.
Ansiedade vem dominando cada dia mais, e quanto mais o tempo passa mais ela vem se tornando presente. Em cada gesto, em cada ato, em cada idéia, em cada vivência.
Pensar que está se aproximando, que a hora vai chegar, que o tempo tá passando e que tudo que foi ontem já não há, e tudo que é amanhã tá virando presente.
Tudo bem, ela sempre existiu, mas em doses menores. Dose que pode ser venenosa ou não. Sem exageros faz bem, assim como tudo e o todo. Nada deve se exagerar, assim como nada deve se antecipar, hora certa, momento exato, destino.
Expectativa pode atrapalhar, pode engrandecer o que nem tão grande é, pode estragar. Mas sem ela as coisas não têm graça, imagina que triste seria se todas as grandes coisas que fizéssemos fossem na hora e ponto, sem antecipação, sem o pensamento anteiror de como vai ser. Tão triste, tão sem intensidade.
E mais uma vez surge o discurso do equilíbrio. Tudo equilibrado, tudo yin-yang.
Na verdade, o que nos resta é a espera, a espera que nos parece tão infinita por causa de tanta expectativa, mas é uma espera que seria tão sem graça e triste se fosse só presente, se a ansiedade não fizesse parte e se nada que fizéssemos no agora não lembrasse o que tem por vir.
Esperar. Mas esperar querendo, ansiando, desejando e equilibrando pra que nada caia da corda bamba em que se pendura a nossa vida.