segunda-feira, 24 de março de 2008

Cego



Quando vi, parado ali,
Um cego a se questionar porquê
Não via só a luz do sol
Como a cor do céu


Direcionou o olhar a mim
Enquanto evitava o encontro ao seu
E com tristeza no falar
Também me perguntou:


"Será mesmo, realmente
amarelo o sol, e azul o céu
por que não será lilás, vermelho
ou quem sabe seja apenas som?"


Agoniado ao pensar
No que o cego estava a falar
Olhos azuis a escurecer
Meu Deus, o que vai ser


Sentei, chorei e compreendi
Que não havia só um cego ali
E perturbado ao dizer,
Escute aí você:


" Quem é que não enxerga aqui
será eu ou você que não percebe?"



( Móveis Coloniais de Acaju )




sexta-feira, 14 de março de 2008

Mais Pensamentos ( Ilusórios, Talvez! )


Como lidar na hora em que se percebe que tudo não passa de ilusão?!
Tá certo que a vida é toda ilusão, mas devemos viver partindo desse princípio?! Se fosse assim, a intensidade, a vivacidade da vida seria desprezada pois o pensamento estaria focado na idéia de que tudo é ilusão, de que não vale a pena pois tudo vai acabar ...
Então como lidar com a ilusão? Iludindo-se mais?! Pensar em ilusão é cair em ilusão, tentar solucionar ilusão é idéia ilusória.
Ah, quanta ilusão nos cerca! Ilusão de todos os gêneros e tipos, conjugados em todas as pessoas, ativamente e passivamente, presente, passado e futuro. Vivemos ilusão, sonhamos sonhos ilusórios (sempre), sentimos ilusão, iludimos ilusão ... Sempre presente, notada ou não, mas presente!
Seguir adiante, independente se a ilusão nos machucou ou não, tentar não pensar que ilusão nos domina, que de ilusão nossa vida é feita e seguir adiante. A não ser que para nos curar internamente seja preciso uma pitada desse pensamento. Equilíbrio, sempre! Saber adaptar e equilibrar a vida para que nem tudo nos torne escravos de pensamentos ilusórios. E agir, agir sempre, para que tudo que parece ser preenchido com ilusão seja mostrado, sim, com ilusão, mas que possa haver o equilíbrio fundamental da vida onde há sempre uma pitada de todas os contrários, de todas as ambigüidades. Ilusão verdadeira. Verdade ilusória.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Transfiguração

Ela já acordou diferente: sorria!
Desligou o despertador com calma, sem o stress diário de achar que dormiu menos que o necessário ... Levantou (no horário certo), pisou no chão e o sentiu gelado, mas nada que o chinelo que tava a apenas dois passos não pudesse resolver.
Foi ao banheiro, e agiu como sempre, como no cotidiano sempre faz, mas tinha algo diferente, ela se sentia melhor, melhor do que se esperava numa quarta-feira às seis horas da manhã.
Tomou o café e saboreou tudo tão bem que se assustou: nunca tinha percebido o quanto era saborosa aquela geléia de amora que sempre comia às pressas ...
Foi ao trabalho, lá todos pareciam tão felizes (inclusive ela), fez seu trabalho com um prazer que nunca poderia imaginar que sentiria num dia comum naquele escritório que sempre considerou tão gélido e sem graça!
Foi embora tranqüila, com sentimento de dever cumprido, sem falhas, sem pensar o que faria pra solucionar algum problema ...
E seguiu o dia, tava tudo tão calmo, tão harmonioso, ela conseguia se sentir sem toda aquela superficialidade. E tudo aquilo era tão bom, tão gratificante e fazia tão bem para ela .
Em um momento ela sentiu que era o começo, o começo de um novo tempo . Uma revolução havia acontecido . E ela não esperava mais a hora, já acontecia, naquele momento .
O que viria amanhã não sabia, mas sabia que nada era igual, que tudo havia se transformado e que a paz estava a seguindo . Ela não mais a procurava . A paz estava ali como nunca esteve!
Enfim, era o começo de uma nova era . A era que ela tanto esperou e que veio em um dia
qualquer com o som do despertador ...
Transfigurando tudo ...

quarta-feira, 5 de março de 2008

Bendita Singularidade

E no caminho eu ia percebendo ...
Percebendo como cada indivíduo possui sua singularidade, sua intimidade, sua aparência diferenciada ... Cada um com seu jeito!
Fui notando que o ser humano é estranho e isso só não é percebido pela rotina e pelo costume que temos de não notar nos pequenos detalhes ( e olha que isso nem é pequeno! )
Fui reparando cada ser em especial,cada andar, cada gesto, cada expressão, cada individualidade que me encantava ... Tão interessante saber que no mundo não há duas pessoas idênticas em tudo, nem os mais perfeitos gêmeos univitelinos
escapam da diferenciação, nem que seja por coisa mínina.
Comecei a imaginar o contrário então: como seria se todos fossem perfeitos clones na aparência? Que horror, que tristeza seria.
Tudo igual, sem inovação, sem novidade, sem restrição. Triste.
Então celebrei. Celebrei à perfeição da natureza e dos seres existentes que se diferenciam não só na aparência mas também na personalidade (que é o mais interessante!). Celebrei à curiosidade de saber o que se passa na mente de cada um que via pelo caminho, e celebrei ao lembrar que não era o mesmo que eu pensava. Celebrei ao mundo diferenciado que nos proporciona novas experiências a cada passagem por novos lugares graças a essa diversidade.
E fui seguindo meu caminho, percebendo, reparando, alegrando, celebrando e sendo diferente de cada um. Ainda bem!