terça-feira, 3 de março de 2009

Caminho.


12 de maio de 1996.

Querida Flora,

Acabo de entrar no trem para minha nova vida e você sabe o quanto eu gosto de escrever qualquer coisa a bordo de um trem, vendo a paisagem passar lá fora, observando cada mínimo detalhe(como eu sempre faço), vendo cada rosto de pessoa, cada listra da poltrona, cada mancha nos vidros da janela, cada arquitetura, cada natureza.
Um senhor senta ao meu lado, e eu acho que eu nunca havia te confessado o quanto eu gosto e o quanto me faz bem observar cada pequeno ato de velhihos e velhinhas por esse mundo, os atos deles são tão serenos, e eu menciono os pequenos atos, os simples movimentos. Esse senhor ao meu lado tem um jornal, ele move serenamente as mãos e coloca seus óculos de leitura, ergue o jornal e começa a ler ... a partir desse momento não existe trem, não existe caminho e nem listras nas poltronas para ele, ele é o jornal. E o que me dá mais prazer é observar o modo como esse senhor passa as páginas do jornal, é como se fosse uma dança entre dedos e papel, uma mistura, chega a dar arrepios, e eu sempre gostei de observar tal ato seja nos trens ou em salas de espera de dentistas. Traz paz.
Ah minha querida, eu gosto tanto de compartilhar todas as coisas contigo, e a gente sabe que não é com qualquer um que isso acontece, essa sintonia. E eu te vejo em cada paisagem lá fora, no Sol que ilumina as plantas, nas nuvens que me mostram calmaria ... em tudo.
Meu caminho está cheio de 'vocês', Flora. E não se esqueça disso.

Com um jardim de amores.
Miguel.