quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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Era só um dia normal de quinta-feira, onde nada demais poderia ocorrer, tudo bem é claro que poderia mas , maas ... Tá, era rotina, nada de diferente estava planejado, ela só sentava na mesma praça, no mesmo banco, no mesmo horário à esperar.
Como numa outra quinta-feira qualquer ela estava na espera, na espera que se renovava a cada vez em que esperava. E essa espera já tinha se tornado totalmente comum, rotineira, e às vezes bastante cansativa e entediante, algo que achava que seria prazeroso pra sempre tinha caído nas garras do senhor tédio. Mas mesmo assim, sentia paixão pelo tédio também. Na verdade ela sempre tentava sentir paixão por tudo o que via e fazia ... e ao sentar naquele banco, todas as quintas-feiras, no mesmo horário ela via quase todas as vezes as mesmas coisas. Tinha um carteiro que sempre passava e deixava correpondências em cada loja, tinham os pombos que às vezes eram muitos e as vezes solitários mas sempre lá, tinha a mulher que passava sempre olhando o relógio, correndo, apressada, lhe parecia tão sem paixão. Tinha o senhor que sempre lhe transparecia calmaria, experiência, sentia vontade de conversar com ele, mas ela gostava mesmo era só de observar, paixão em observar. Observava cada pedrinha, cada banco, cada lixo jogado no chão, cada folha das árvores, cada gotícula que caia da fonte, paixão por isso, paixão pelas quintas, paixão pela espera, paixão pelo tédio. Engraçado, ela nunca na vida pensou que um dia poderia tirar proveito do tédio, sempre o observava com mal olhar, assim como observa a mulher do relógio, mas se enganou e aprendeu que o tédio poderia sim trazer boas coisas, poderia trazer paixão.
Mais uma quinta-feira de sol, de gotículas, de pedrinhas, de pombos, de senhor, de mulher, de carteiro, de estalar de dedos, de se ver fazer nada, de silêncio, de observação, de calma no meio da bagunça. Quinta-feira, sim quinta-feira que parecia não acabar mas que acabava, ela tinha tanta paixão pelo final, assim como pelo começo, e depois de cada quinta-feira ela se sentia mais feliz, renovada, inteira, porque as paixões se reuninam todas num dia só.
E no fundo ela sabia o porque de tanta alegria pós quinta-feira, ela sabia porque cada quinta-feira lhe dava felicidade, era porque em cada vez que ela observava as mesmas coisas, fazia as mesmas coisas, pensava as mesmas coisas e não pensava nada ao mesmo tempo ela percebia que o que ela tinha e sempre haveria de ter era a paixão, mas paixão só pelas coisas simples!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008


Faça um barco para mim.
Faço um barco para mim daqueles bem grandes, que flutuam e que vão além de qualquer fronteira, que passam do horizonte interminável e que se mostram cada vez mais pequenos por causa da imensidão das águas.
Faça um barco para mim que siga conhecendo diferenças, se mostrando no meio do desconhecido, que se faça navegar por si só. E que em cada parada, em cada porto esse tal barco seja mais aperfeiçoado, que em cada porto ele possa ter mais o que contar no final de toda longa rota. E faça com que esse barco seja capaz de carregar o máximo de coisas boas possíveis, que ele seja capaz de carregar pessoas, amores, alegrias, borboletas, brilhos, músicas, belezas, simplicidade e saudades ... faça com que ele deixe saudade e que sinta saudade. E o melhor: faça com que a saudade possa ser matada, faça com que a saudade seja sentida para acabar, para dar a alegria do reencontro, encha-o de reencontros.
Enfim, faça para mim um barco que navegue, que navegue sem rumos, que não pare e que quando parar tenha histórias para contar, alegrias para dividir e pessoas para levar numa jornada que nunca acaba !